Redes sociais de vigilância

Por Arthur Bezerra

Como disse Edward Snowden em um tweet recente: empresas que fazem dinheiro coletando dados pessoais para vendê-los já foram chamadas de "empresas de vigilância"; hoje, são chamadas de "redes sociais".

A Cambridge Analytica sabe disso. CA é uma empresa que usa estratégias de publicidade direcionada (incluindo fake news e outros expedientes ilegais) para ganhar eleições. Trabalharam na campanha do Trump, no Brexit, em eleições na Nigéria, República Tcheca, Índia, Quênia e Argentina, e já possuem escritório em São Paulo, de olho nas eleições brasileiras.

Na semana passada, o Channel 4 levou ao ar uma reportagem que mostra quatro encontros entre os CEOs da empresa e um suposto interessado em ganhar eleições no Sri Lanka (na verdade um jornalista disfarçado). As filmagens das câmeras escondidas não deixam dúvidas a respeito do modus operandi da CA: ofertas criminosas de corrupção, disseminação de fake news, manipulação emocional de eleitores indecisos e até o possível uso de "belas garotas ucranianas" para conseguir imagens e informações comprometedoras da concorrência, para depois serem viralizadas na internet.

A reportagem vem ao ar no momento em que um ex funcionário da CA denuncia a obtenção dos dados digitais dos perfis de Facebook de 50 milhões de eleitores nos EUA, usados sem autorização no início de 2014 para construir um sistema de informação e avaliação individual de eleitores, a fim de personalizar a propaganda política que contribuiu (para alguns, de forma decisiva) para vitória de Trump nas últimas eleições.

Publicado em 5 de junho de 2018.