I Seminário Internacional iKRITIKA é realizado no Rio


Foi realizado no dia 3/12, no Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), no Rio, o I Seminário Internacional iKRITIKA. O evento contou com a conferência de abertura do pesquisador Houari Touati, da École des Hautes Études en Sciences Sociales (França), e quatro palestras baseadas nos temas dos capítulos do recém-lançado livro "iKRITIKA: estudos críticos em informação". 

Na fala de abertura, o argelino Touati colocou em questão a história intelectual e cultura dos primeiros séculos do Islã, incluindo a história do livro e da leitura, as relações entre ciências sociais e os estudos históricos do Maghreb, bem como sua antropologia histórica. O conceito de "homem" na cultura islâmica também foi abordado. A conferência destacou também a pesquisa internacional sobre a cultura do Islã a partir da École des Hautes Études en Sciences Sociales, do Centre d'Histoire Sociale de l'Islam Méditerranéen e da construção da  Encyclopédie de l’humanisme méditerranéen. 

Na sequência, foram apresentadas as palestras dos quatro autores do livro "iKRITIKA: estudos críticos em informação", todos pesquisadores do IBICT e professores no PPGCI-IBICT/UFRJ: Arthur Coelho Bezerra, coordenador do grupo de pesquisa Estudos Críticos em Informação, Tecnologia e Organização Social (Escritos); Marco Schneider, coordenador do grupo de pesquisa Perspectivas Filosóficas em Informação (Perfil-i); Ricardo M. Pimenta, coordenador do grupo de pesquisa Informação, memória e sociedade (IMeS), e Gustavo Silva Saldanha, coordenador do programa de pós-graduação e do grupo de pesquisa Ecce Liber.

Na palestra "Teoria Crítica da Informação: proposta teórico-metodológica de integração entre os conceitos de regime de informação e competência crítica em informação", Bezerra apresentou uma proposta de teoria crítica da informação que traz, como rosa dos ventos, a teoria crítica desenvolvida por filósofos da Escola de Frankfurt, tendo como pontos cardeais os conceitos de regime de informação e de competência crítica em informação. O primeiro foi apresentado como recurso interpretativo para analisar a estrutura do ecossistema informacional contemporâneo, enquanto o segundo busca extrair, sob a ótica de uma práxis transformadora, as condições de emancipação necessárias para a produção de novas formas sociais de vida.

Com o tema "CCI/7: Competência crítica em informação (em 7 níveis) como dispositivo de combate à pós-verdade", Schneider problematizou o elemento ético informacional subjacente ao fenômeno da pós-verdade, enquanto diagnóstico, e apresentou a noção de competência crítica em informação em sete níveis, ou CCI/7, como horizonte terapêutico. Em termos sintéticos, os níveis da CCI/7 são: 1) nível da concentração; 2) nível instrumental; 3) nível do gosto; 4) nível da relevância; 5) nível da credibilidade; 6) nível da ética; 7) nível da crítica.

A palestra de Pimenta, "Cultura da visibilidade informacional: estética e política da técnica no regime global de informação", apontou na sociedade da informação, e em especial a contemporânea, a presença de uma cultura visuocêntrica  responsável pela forma como a produção e o acesso à informação têm sido governados por uma estética e uma tecnopolitica imagética. Nesse contexto, o pensamento crítico debruça-se sobre os papéis da tecnologia, da mediação e da experiência advinda do contato do sujeito social com as diversas representações de mundo e de seus objetos técnicos. Na era digital, o ato de ver, de ser e de saber se dá por uma cultura material, eletrônica, digital, discursiva. Uma cultura da visibilidade informacional. É aí, pontua o pesquisador, que se entende também o advento das Humanidades Digitais enquanto campo possivel de investigação.

No encerramento do encontro, a fala "Sem e cem teorias críticas da informação: autorretrato da teoria social e o método da crítica nos estudos informacionais, uma bibliografia benjaminiana aberta", conduzida por Saldanha, trouxe a perspectiva de que a concepção de uma teoria crítica da, na e para a Ciência da Informação (CI) encontra lugar em toda e qualquer abordagem de fundamentação do campo até a teoria esquemática estivalsiana do fascismo como parte essencial das fases de recessão do ciclo liberal segundo a empiria da crise de 2008. Segundo o pesquisador, a procura nessa pesquisa reside no garimpo. Uma outra forma de dizê-la (a crítica epistemológico-histórica-informacional), afirma, estaria objetivamente em Benjamin: colecione tudo! Tudo poderá ser útil. E a dialética se abre: é justo no campo da CI que, pela via da opressão, responde ao horizonte a impossibilidade de tudo se ordenar. E a exclusão da classe na classificação é a fundamentação dos excluídos como necessários à máquina, ao pleno funcionamento da máquina. A generalidade dos estratos não ganha o vazio do horizonte estanque. A dialética é sua margem de escolha. A proposta, conclui, é ver a contradição que funda na CI e que a esquece.